"Sabe aquela história de que não existe almoço grátis? Mudou tudo, a economia agora está cheia de coisas de graça."Alvin Toffler, futurólogo americano, em entrevista à Pedro Doria publicada aqui no Yahoo! Tecnologia em Alvin Tofler fala das mudanças na economia tradicional. Abaixo, segue o texto:
"Sabe aquela história de que não há almoço grátis?", pergunta Alvin Toffler. "Mudou tudo, a economia está cheia de coisas de graça", ele diz. Aos 78 anos, o primeiro futurista do mundo está cansado. Chegou a São Paulo faz um dia (1º de agosto) e torna à casa, em Los Angeles, nesta noite (dia 2). "Minha mulher não pôde vir, quero voltar logo." Toffler sorri. "Sinto saudades." O cansaço é acusado pela postura relaxada na cadeira, quase jogado, pelas pálpebras que caem com insistência, por uma pequena veia que estourou no olho direito.Mas aí o velho professor lembra do que falava. Ganha ritmo, se empolga com suas idéias mais recentes. Quer se fazer compreender. "Se você vai a um caixa automático e saca dinheiro, um serviço é prestado e ninguém recebe por ele." Antes, todo serviço exigia um empregado para fazê-lo. Mas quem mede a pressão com um aparelhinho, em casa, não paga a visita do médico. Software livre, fotos digitais que não carecem de revelação, há uma miríade de funções que não geram mais pagamentos. No entanto, geram valor: o dinheiro na mão, a tranqüilidade de que a pressão vai bem ou a foto da filha soprando a vela de aniversário.
Dentre seus muitos livros, dois são clássicos, best-sellers desde o momento em que chegaram às livrarias. O Choque do Futuro, de 1970, e A Terceira Onda, de 1980. No primeiro, ele observava o medo que as pessoas têm do mundo em mudança. O futuro choca. Toffler previu que a sobrecarga de informação seria causa de stress e cunhou uma penca de neologismos. Um deles, "tecno rebeldes", trouxe o sufixo "tecno", de tecnologia, para o nosso dia-a-dia.
No final dos anos 1960, não existia o ramo acadêmico que hoje chamamos de futurismo. O que havia - e causava profundo fascínio - eram as idéias do professor canadense de literatura medieval Marshall McLuhan. Na era em que a televisão representava o máximo da inovação tecnológica, McLuhan sugeria que o texto não-interativo - jornal, carta, livro - estava deixando de ser o principal meio pelo qual as pessoas se informavam. No mundo do texto, as pessoas se distanciam. No audiovisual, interativo, aconteceria uma reaproximação. Como na velha tribo da cultura oral, o planeta todo se transformaria numa grande "aldeia global". E aconteceu. Na esteira de McLuhan, veio Toffler.
Em 1980, ele sugeriu que nossa história poderia ser contada em três grandes ondas. A primeira, agrícola; a segunda, industrial. "Quando você depende de uma linha de montagem, que é a idéia da indústria", ele sugere, "a pontualidade é muito importante". O mundo industrial inventou o relógio de pulso. Todos precisavam estar sincronizados. No campo, se o sujeito chega às 7 horas para plantar, ou se chega às 8 horas, faz pouca diferença. Na linha de montagem, em que um aperta o parafuso que o anterior encaixou, precisam todos estar ao mesmo tempo no mesmo local. "Hoje, mais que o horário de 9 às 5, o importante é a produtividade." Estamos vivendo a transição para a terceira onda.
Toffler sentiu o choque do futuro na pele. Para o jovem nova-iorquino que foi estudar literatura no final dos anos 1940, os sonhos e aspirações eram tais que não fazem mais sentido, hoje. Ser popstar era ser escritor. O novo Hemingway, o novo Steinbeck. E, assim como John Steinbeck foi trabalhar nas vinhas da Califórnia para se inspirar, Alvin e a jovem estudante de lingüística por quem se apaixonou, Heidi, foram ser operários. Se sindicalizaram.
Estão casados há quase 60 anos. Morreu-lhes uma filha, Karen, em 2000. E, quando conta isso, o rosto de Alvin empalidece um pouco, a voz desce um ou dois tons - há um momento de branco, como se perdesse o rumo do qual falava. Como se ficasse pasmo por um segundo. Surpreso. Quer outro assunto.
Não foram operários por muito tempo, Alvin e Heidi. No sindicato, começaram a editar um jornal e, quando a direção achou que era importante ter um repórter cobrindo questões trabalhistas na capital, lá se mudaram os Tofflers para Washington.
O grande romance americano jamais veio enquanto o casal ganhava a vida. Alvin, de repórter de jornal sindical, foi para um jornal tradicional. Deste segundo jornal, para a revista Fortune, como repórter de questões trabalhistas, e, ainda na Fortune, assumiu a cobertura de negócios e empresas. "A essas alturas, nos anos 1960, não sei se ainda éramos de esquerda."
Casaram-se quando ele tinha 20 e ela, 19. Em algum momento numa vida tão intensa e tão junta, Alvin deixou de usar a primeira pessoa do singular. Fala de "nós", confunde-se com Heidi. "Nossas idéias", ele diz. "O que imaginamos", continua. "Não sei se éramos mais de esquerda." Protestaram contra a guerra do Vietnã, enquanto serviam de consultores para a IBM, então para a Xerox, daí para a AT&T. "Passamos a pensar independentemente da política."
No novo trabalho, travaram contato antes de quase todo o resto do mundo com as tecnologias que confirmariam a revolução imaginada por McLuhan. Seu serviço para tais empresas: imaginar como deveriam se posicionar para continuar bem no futuro. Imaginar o futuro.
A praxe dos empresários era rejeitar suas idéias. À AT&T, para quem sugeriram a divisão da companhia em duas, uma de desenvolvimento de tecnologia, outra de serviços de telecomunicações, os Tofflers não faziam sentido. A empresa acabou dividida, por imposição da Justiça, uma década depois. O Choque do Futuro, primeiro livro de Alvin, editado por Heidi, explorava esta rejeição do futuro. Confortável, naqueles princípios de década de 1970, é quando o mundo não muda. Só que o mundo estava mudando por toda parte.
Após o lançamento do livro, os Tofflers ficaram conhecidos nacionalmente e foram convidados pelo Congresso dos EUA a criar um comitê de estudos do futuro. Foi quando fizeram amizade com dois jovens deputados. Um, Al Gore, viria a ser vice-presidente - e quase presidente. O outro, Newt Gingrich, foi presidente da Câmara e o principal nome da oposição ao governo Bill Clinton. Em comum, ambos tinham o respeito pelas idéias de Toffler.
Mentor chinês
A Terceira Onda o lançou internacionalmente. Inicialmente proibido na China, foi digerido pelo Comitê Central do Partido Comunista e liberado. Ponham-se numa planilha todos os livros vendidos na década de 1980 no País do Centro e o do professor só perde para as obras reunidas de Deng Xiaoping. "Mas não ganhei um tostão, eles nunca ligaram muito para essa coisa de direitos autorais", diz e ri. Ganhou outra coisa, até mais valiosa quando se está no ramo de adivinhar o futuro: prestígio. Toffler foi consultor de Zhao Ziyang, secretário geral do Partido que abriu a China.
Mikhail Gorbachev, da URSS, os presidentes Mahathir bin Mohamad, da Malásia, Abdul Kalam, da Índia, Kim Dae Jung, da Coréia do Sul - a lista se estende. "Vocês têm de ser ousados como Toffler, temos de transformar este país", disse certa vez Hugo Chávez a seus assessores. "Mas as mudanças que ele imaginava eram um pouco diferentes das minhas", retruca o velho professor. Está cansado, quer pegar seu avião, mas o bom humor se mantém.
"Há uma nova riqueza se criando e ela não se conta em dinheiro. Quando riqueza se contava em terra, ela era limitada. Só dá para plantar uma coisa por vez. Na era da informação, todos podemos usar o mesmo conhecimento ao mesmo tempo. Os economistas ainda não descobriram como contar estes valores produzidos de graça. Mas é o que está mudando tudo." As informações são do O Estado de S. Paulo/Link
Post originalmente publicado no Yahoo! Tecnologia.
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