13.7.07

Arnaldo Jabor influenciado por textos apócrifos em seu nome

No Pavilhão

"Este artigo parece aqueles textos apócrifos que espalham em meu nome pela internet. Mas pode botar que eu confirmo. Santo Deus, estou sendo influenciado por meus imitadores..."
Arnaldo Jabour, em sua coluna Ao homem-objeto (para assinantes), publicada em 17/4/2007 no Estadão.

Update: Abaixo suposto texto original publicado no Estadão.

Ao homem-objeto
17/04/07 - O Estado de São Paulo - Arnaldo Jabor

Antes, os homens, desejávamos a mulher. Hoje, queremos ser desejados. No
tempo de meus pais, elas em geral não davam: só casando. Nelson
Rodrigues conta que os noivos galopavam como centauros para o quarto
nupcial avançando sobre as noivas pálidas de terror.

Filho dessa geração, eu achava que o desejo da mulher era 'conseqüência'
do nosso, que elas ansiavam por nosso assédio, em delíquios desmaiados.
Eu achava que levar uma mulher para a cama era algo só de minha
responsabilidade, que elas cumpriam cabisbaixas, trêmulas e, depois,
gratas. Elas 'davam' como uma tarefa quase política. Hoje, os homens é
que dão. Elas comem. Os homens se raspam, para ficarem com o corpo
feminino. Os homens malham, para ficarem magníficos objetos de prazer.

Antes, não. Eram barrigudos informes, sórdidos, com lindas damas ao
lado, brutais machões dominando ninfas. Hoje, elas escolhem: 'Aquele
ali. Vou comer...' Somos analisados minuciosamente nas conversas dos
vestiários. Dizem-me informantes traidoras que o papo é mais brutal que
conversa de marinheiro. Os pintinhos são analisados com régua e
compasso. A barriga derruba um apaixonado, a bunda (isso é novo) passou
a ser um objeto sexual fundamental para as moças: 'Que bundinha ele
tem!' Nosso pobre feminismo deu nisso: as mulheres analisam os homens
como imaginam que eram analisadas por nós: 'Que avião, eu ia te comer
todinha...' Hoje, nós somos as caricaturas das caricaturas que fazíamos
delas.

Fui educado pelos jesuítas, o melhor caminho para a perversão. Sempre
imaginei as mulheres como usáveis, romanticamente ingênuas, ou santas ou
decaídas... Mas nunca imaginei ver esse exército de rostos lindos, mas
duros, implacáveis na avaliação do sujeito, nos olhando como sargentos
examinando recrutas. Não imaginava o medo diante da glamourização
excessiva das celebridades. O que nos excitava, ou melhor, nos fazia
apaixonados era ver em seus olhos a busca de proteção, quase um apelo de
socorro. Nossa virilidade era quixotesca, salvadora. Sua fragilidade,
mesmo fingida, era tão erotizante... Outro dia vi um documentário antigo
com a Jackie Kennedy falando; parecia uma menininha, uma 'barbie'
ingênua. Claro que não me refiro às pobres desamparadas socialmente;
falo das peruas de esquerda e de direita (elas existem...), falo da
vanguarda das gostosas. Transar com uma mulher hoje é passar por um
teste. E surge a dúvida máxima: o que dar às mulheres? Carinho?
Proteção? Porrada? Desprezo? Companheirismo? Dar o quê? Dinheiro? Já
servimos para sustentá-las, mandar nelas: 'Oh, bobinhas... não é assim,
é assado...' Mas, não sabemos mais o que oferecer. Diante disso, o amor
vira uma batalha de prazeres e dores, uma guerra constante e excitante,
ciúmes afrodisíacos, ódios excitantes para o 'make-up fuck' (a melhor
que há). Os amores de /Caras /duram semanas; casou, perdeu a graça. Os
jovens ricos vivem em haréns de luxo (ah, verde inveja...) Claro que o
amor dos desvalidos continua igual: porrada, alcoolismo, e abandono.
Repito que falo das 'vanguardas' neo-sacanas.

Bordéis do amor

Assim, creio que a revolução se deu mais por via das mulheres, do que
dos homens. Já repararam como tem garoto-objeto casando com
coroas-célebres? E dizem que dinheiro compra até amor verdadeiro... Elas
mudaram, desde a pílula até hoje, impulsionadas pela tecnologia veloz,
pela indústria das revistas pornô; houve uma fetichização das partes
pelo todo. São pedaços que vemos. O conjunto nos angustia. Disse-me uma
antropóloga linda outro dia que o que mudou foi a transformação do sexo
em ginástica, num atletismo em que as perversões proibidas se
transformaram em brincadeiras polimorfas. Ninguém peca mais. E a culpa?
O que foi feito dela? O limite é o quê? A morte? A aids segurou um pouco
a barra da loucura que se anunciava nos anos 80, mas agora, com
coquetéis, há um recrudescimento da sacanagem como parque de diversões.

As famosas surubas de antigamente (oh... crime nefando...), hoje são
cirandas-cirandinhas felizes e gargalhantes. O bom e velho orgasminho
não basta mais. É preciso ir mais longe. Até aonde? Talvez, busquemos um
êxtase permanente num mundo que se aquece, num presente enorme que não
acaba. Precisamos de uma libertinagem constante, já que a tal da
liberdade era mesmo 'uma calça velha e desbotada'... E que orgasmo é
esse que atroará os ares? E, falando mais seriamente, que transgressão
suprema acabará com todos os limites? Muhammad Atta, o chefe do ataque
no 11 de Setembro, segundo artigo antológico de Martin Amis, não era
religioso, não acreditava em Alá, não era militante político, era
químico na Alemanha e, no entanto, queria algo supremo. O quê? A
realização do inominável, do impensável, o crime absoluto e, por
segundos antes de explodir, ele sentiu o êxtase do tenebroso.

O marquês de Sade desafiou os limites da natureza. Nesta
neo-libertinagem, queremos ir além das coisas que viramos.

Há um desejo de aperfeiçoar os desempenhos, como se moderniza um avião
ou um chip. Nas casas de swing, por exemplo, há uma utopia de se atingir
uma paz além do ciúme, além da posse, a paz da solidão compartilhada, um
companheirismo pacífico entre putas e cornos.

No entanto, faço uma previsão. As coisas vão e voltam.

Dentro em pouco, vai ressurgir uma onda romântica, diante do terror que
a liberdade total está gerando. Dentro em pouco, teremos amores
infinitos, beijos eternos, fidelidades sem-fim. No entanto, onde se
aninharão os casais? No campo? Nas neves derretidas? No pó das cidades?

Onde? Não temos onde amar. Não há casulos disponíveis. Famílias, lares?

Não. Haverá talvez bordéis românticos, motéis da paixão, onde a paz
infinita irá além dos gritos de tesão.

Ninguém agüenta mais tanta liberdade...

Este artigo parece aqueles textos apócrifos que espalham em meu nome,
na internet. Mas, podem botar que eu confirmo. Santo Deus, estou sendo
influenciado por meus imitadores...


Post originalmente publicado no Yahoo! Tecnologia

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